quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Nova arma contra o crime de trânsito

24/10/2013
Diário Gaúcho
Especial | Pág. 24


Nova arma contra o crime de trânsito


Está com os dias contados a impunidade para quem assume o volante após usar maconha, cocaína, calmantes e outras drogas. Um projeto conjunto entre a Polícia Rodoviária Federal e o Centro de Pesquisas em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre pretende testar equipamento que identifica o uso de entorpecentes em motoristas a partir da saliva.

A utilização do "drogômetro" aguarda apenas autorização do Comitê de Ética do Clínicas para entrar em ação. O projeto ocorre em parceria com o Instituto de Saúde Pública da Noruega, que ao lado de Austrália, Estados Unidos e Canadá, é referência no combate ao uso de álcool e drogas ao volante. Órgãos de segurança e trânsito como a Brigada e o Detran-RS também estão envolvidos na iniciativa, que deve ter início no primeiro semestre de 2014.

Resultado vem em até cinco minutos Recém-testado nos Estados Unidos, o equipamento é chamado DDS-2, fabricado pela empresa Alere se assemelha a uma máquina leitora de cartão de crédito. Funciona a partir da saliva, colocada em uma espécie de canudo e processada por análise química em até cinco minutos. O equipamento faz a leitura sobre o que a pessoa usou, com a possibilidade de imprimir comprovante, como um recibo de pagamento feito com cartão. Seria uma facilidade para a fiscalização, que atualmente baseia-se apenas em gestos e comportamentos.

Diversos tipos de drogas na mira

Chefe do Serviço de Psiquiatria de Adição da Unidade Alvaro Alvim do Clínicas, Flávio Pechansky entende que o aparelho é promissor pela possibilidade de flagrar diversos tipos de drogas ao mesmo tempo, como tranquilizantes e ansiolíticos e maconha, por exemplo.

No Brasil, o abuso de substâncias não previstas no DDS-2, como os rebites, pressupõe uma adaptação do instrumento à realidade local. A estimativa é de que, hoje, pelo menos 5% das mortes no trânsito ocorrem devido ao uso de drogas ilícitas. Foi o que mostrou o Estudo do Impacto do Uso de Bebidas Alcoólicas e Outras Substâncias Psicoativas no Trânsito Brasileiro, lançado em 2010 pela Ufrgs.

— O custo do drogômetro pode parecer caro (estimado em R$ 10 mil), mas se comparar ao custo do teste em laboratório, e ao custo das vidas que se vão, também não representa muito — diz o pesquisador.

Brasil iá testou o equipamento


Não é a primeira vez que se fala em drogômetro no Brasil. Iniciativa semelhante ocorreu na capital paulista durante o Carnaval de 2013, em blitze da Lei Seca. Na ocasião, foi utilizado um equipamento semelhante, o chamado "kit multidrogas".

A diferença entre os dois aparelhos, segundo a professora da Faculdade de Farmácia e do Laboratório de
Toxicologia da Ufrgs Renata Pereira Limberger, é a automatização e a documentação. Isso quer dizer que enquanto o primeiro é manual e não produz prova documental, o segundo é eletrônico e traz a impressão do resultado.

- Por falta de legislação específica, esse ainda não é produzido, vendido nem registrado no Brasil. Por isso, após
encerrada a fase de estudos, e se o resultado dos testes for satisfatório, será solicitado o registro no Inmetro e na Anvisa para, posteriormente, adquirir amplamente -explica a pesquisadora.

Outro motivo que levou à falha do uso em São Paulo, segundo Renata, foi a falta de confirmação em laboratório, etapa que deverá ocorrer na pesquisa em solo gaúcho.

REGULAMENTAÇÃO



Referência mundial no controle do uso de álcool e drogas no trânsito, a Noruega foi o primeiro país a regulamentar a proibição da bebida na direção, em 1936. Após a redução concreta do número de mortes por álcool, os norueguês tiveram espaço para discutir outras drogas.

No Brasil, a legislação que prevê punições para motoristas alcoolizados é de 2008, sendo que o uso de bafômetros passou a ocorrer de forma mais frequente em 2011 e a fiscalização tornou-se rígida apenas a partir de 2012.

Atualmente, a proibição do uso de drogas na direção no Rio Grande do Sul é regulamentado pela resolução 075/2013, do Conselho Estadual de Trânsito do RS (Cetran-RS). A lei traz um protocolo que pauta os fiscais dos órgãos de trânsito a conferir se o motorista fez o uso de drogas a partir de evidências como a roupa desalinhada, os olhos vermelhos, o caminhar alterado, a respiração ofegante, entre outras características.

A aquisição do aparelho servirá para realização de testes que possam comprovar o consumo e, com isso, modificar a regulamentação.

Segundo o inspetor da Polícia Rodoviária Federal Alessandro Castro, a intenção da PRF é adquirir o modelo para viabilizar o estudo:
— Esperamos integrar o mais rápido possível com os demais órgãos de trânsito — explica.

Coordenador da Balada Segura do Detran — RS, Adelto Rohr alerta que, para o equipamento ser levado ao trânsito, a regulamentação deve ser feita junto ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
 

FONTE:

 
http://www.cwaclipping.net//sistema/newsletter/visualizar/materia.php?security=3cc069935460.825139.2422646